Reportagens sobre Desenvolvimento de Carreira

Notícias para Empreendedores

Notícias sobre Mídia e Marketing

26 de fev. de 2010

Diga NÃO à Telebrás

Escrito por Gustavo Vannucchi.

Outro dia li um texto motivacional que entre verdades, meias verdades e.. muito papo furado, apresentava dados supostamente baseados na pesquisa de uma instituição. Um dos tópicos salientava o fato de 60% dos brasileiros ter acesso a internet. FANTÁSTICO!
Bom, passando reto pelo fato de 60% dos brasileiros ter um nível de conhecimento da própria língua muito baixo, até porque o número sem dúvida inclui recém nascidos, menos de 12% desses internautas tem acesso a internet através de conexão de banda larga.

Observemos alguns dados e análise:

- Segundo a FGV e o IBOPE, hoje cerca de 25% dos brasileiros com 16 ou mais anos de idade acessam a internet. Coloquemos aí mais alguns de 12 a 15 anos de idade no mix e consideremos 30% dos brasileiros (tá bom, meu sobrinho de 7 anos também tem blog e manda email, mas é exceção).

- Esse número inclui pessoas que dão uma olhada uma vez por semana no email (talvez ainda do BOL). Bom, quem verifica o email uma vez por semana ou é muito famoso ou... não recebe quase nenhum email. Ou seja, põe a pontnha do pé na internet, não navega.
- Dessas pessoas, 12% acessam a internet por conexão rápida (rápida para os padrões brasileiros significa 10 a 30% da velocidade nos países desenvolvidos). Em outras palavras, 6 milhões de brasileiros (3% dos brasileiros tem acesso a internet menos lenta).
- Quem não tem acesso de banda larga, além de não baixar um filme pirata de vez em quando, pornográfico ou cópias ilegais de programas, não tem acesso a algumas das grandes evoluções da grande rede, como TV online, Rádio online, aluguel de filmes, youtube, sites full-flash, e-learning, webinnars, etc.

Em poucas palavras, são poucos, ou melhor, somos poucos dentre aqueles que navegam pela verdadeira internet.

O que fazer então?

O governo diz que a melhor solução é reavivar a Telebrás numa espécie de Telebrás 2.0. A estatal faria concorrência às demais empresas na oferta de acesso a internet de banda larga e controlaria a rede brasileira de fibra ótica. Cobraria preços de 15 a 35 reais pelos mesmos serviços que outras empresas cobram 70 reais. O investimento inicial seria de 20 bilhões de reais.

Eu digo...: diga NÃO à Telebrás!

Primeiro de tudo porque qualquer empresa, estatal ou não, tem que dar lucro. Dar lucro cobrando pouco para competir em uma área em que não tem know-how é complicado. Além disso, pra dar lucro, não pode virar o cabide de empregos que qualquer estatal vira em pouquíssimo tempo. Já começando pela consultoria do senhor Zé Dirceu. Acionistas só vão investir de fato com confiança e estabilidade se a empresa lhes passar confiança e estabilidade.

Acredito que agências controladoras têm a função de regulamentar mercados e já são teoricamente interferência suficiente do governo e da população. Leis apropriadas deveriam ser criadas para impulsionar a oferta de serviços a valores mais baixos e de melhor qualidade.

Outra coisa muito econômica de se fazer, mais simples e com efeito direto, é diminuir os impostos. Da sua conta mensal de internet, na sua empresa ou na sua casa, 43% vai pro governo. O mesmo que você paga por um perfume ou um relógio importado. Em outras palavras o governo trata o serviço de internet como itém superfluo. Com leis e regulamentações bem feitas, impostos decentes e com a vontade das operadoras já estabelecidas de ter lucros, teremos uma internet muito melhor, muito menos cara e mais próxima dos outros 97% de brasileiros excluídos do que nós chamamos de internet.

E isso é só pra começar...

Tudo o que mencionei aqui neste texto na verdade está limitado a o que a internet representa de mais básico.

Não mencionei a exclusão de micro-empresas do e-commerce hoje tão acessível quanto abrir uma conta de email nova, não comentei que nos países desenvolvidos 12% da internet já é acessada através de smartphones e videogames e que o iPad e o iPhone são e serão para poucos no Brasil ainda por vários anos. Aliás todos também com impostos che chegam a elevar o valor do produto em 120%.

O Brasil é um grande país, mas tem que ter um olhar crítico sobre sí mesmo e não se deixar levar por uma promessa linda que parece ser a Telebrás.

Como sempre digo, não quero me colocar aqui como o senhor da razão então seus argumentos ponderados e bem explicados serão muito bem vindos.

Abraço

Gustavo Vannucchi
Coordenador Executivos Brasil.